quarta-feira, 13 de abril de 2011

UM POUCO DE A. W. TOZER, 2º Texto (1897-1963)

PARA SERMOS CERTOS, TEMOS QUE PENSAR CERTO

Aquilo no que pensamos quando estamos livres para pensar no que quisermos – isso é o que somos ou no que logo nos tornaremos.

A Bíblia tem muito a dizer acerca dos nossos pensamentos. O meio evangélico atual não tem praticamente nada a dizer sobre eles. A razão pela qual a Bíblia diz tanto sobre isso é que nossos pensamentos são de importância vital para nós; a razão pela qual o movimento evangélico diz tão pouco é que estamos reagindo desproporcionalmente contra os “cultos do pensamento”, como o Novo Pensamento, a Ciência Cristã e outros do gênero. Essas doutrinas consideram nossos pensamentos praticamente tudo e nós nos contrapomos a elas tornando-os virtualmente nada. Ambas as posições estão erradas.

Nossos pensamentos voluntários não apenas revelam o que nós somos, mas também predizem no que nos tornaremos. Com exceção daquelas condutas que brotam dos nossos instintos naturais básicos, todo comportamento consciente é precedido por pensamentos e deles emerge. A vontade pode se tornar uma serva dos pensamentos e, em grande medida, até nossas emoções seguirão nossos pensamentos. “Quanto mais penso nisso, com mais raiva fico”. É como o homem comum expressa esse fato e, ao fazê-lo, não apenas dá um relato preciso sobre seu próprio processo mental como também presta um tributo inconsciente ao poder do pensamento. Pensar produz sentir e sentir deflagra a ação. É assim que somos e é melhor aceitarmos esse fato.

Os Salmos e os Profetas contêm numerosas referências ao poder do pensamento correto para despertar sentimentos espirituais e incitar à conduta correta. “Pensei nos meus caminhos, e mudei meus passos sob teus testemunhos”. “Enquanto eu meditava o fogo acendeu-se: então falei com minha língua.” Seguidamente os escritores do Velho Testamento nos exortam a nos aquietarmos e a meditarmos sobre coisas elevadas e santas, como preliminar necessária a uma mudança de vida, a uma boa obra ou a um ato de coragem.

O Velho Testamento não está sozinho no seu respeito ao poder conferido por Deus ao pensamento humano. Cristo ensinou que os homens se contaminam por meio de pensamentos maus e chegou mesmo ao ponto de igualar pensamento e ação: “Quem olhar para uma mulher e a cobiçar já adulterou com ela no seu coração”. Paulo elencou uma lista de virtudes reluzentes e ordenou: “Pensem nessas coisas”.

Essas citações são apenas quatro dentre centenas que poderiam ser retiradas das Escrituras. Pensar em Deus e em coisas espirituais cria um clima moral favorável ao crescimento da fé, do amor, da humildade e da reverência. Nós não podemos, pelo pensamento, regenerar nosso coração, remover nossos pecados ou mudar as listas da zebra. Também não podemos, pelo pensamento, acrescentar um côvado a nossa estatura ou transformar o mal em bem ou a escuridão em luz. Assim, ensinar isso é distorcer uma verdade das Escrituras e usá-la para nossos próprios maus atos. Mas nós podemos, por meio de pensamentos inspirados pelo Espírito, cooperar para que nossa mente se torne um santuário puro, no qual Deus terá prazer em habitar.

Referi-me, num parágrafo anterior, a “nossos pensamentos voluntários" e usei essas palavras propositadamente. Em nossa jornada por esse mundo mau e hostil, seremos assediados por muitos pensamentos dos quais não gostamos e pelos quais não nutrimos qualquer simpatia moral. A necessidade de ganhar a vida pode nos compelir a convivermos cotidianamente com pensamentos nada edificantes. A simples consciência das obras de nossos semelhantes nos trará pensamentos repugnantes a nossa alma cristã. Isso deve nos afetar muito pouco. Não somos responsáveis por esses pensamentos e eles podem atravessar nossa mente como um pássaro cruza os céus, sem deixar traço. Eles não têm efeito duradouro sobre nós porque não são nossos. São intrusos indesejados pelos quais não temos apreço e dos quais nos livramos o mais rapidamente possível.

Quem quiser avaliar corretamente sua própria condição espiritual pode fazê-lo notando quais foram seus pensamentos voluntários nas últimas horas ou dias. No que pensou quando estava livre para pensar no que quisesse? Em que direção se moveu o íntimo do seu coração quando estava livre para escolher para onde se inclinar? Quando o pássaro do pensamento foi libertado para voar, ele voou como o corvo até pousar em alguma carcaça flutuante, ou voou como a pomba e retornou à arca de Deus? Esse é um teste fácil de fazer e, se formos honestos conosco mesmos, podemos descobrir não apenas o que somos, mas também no que nos tornaremos.

Se nossos pensamentos conduzem nossos sentimentos, e desse modo influenciam fortemente nossas vontades, é igualmente verdadeiro que a vontade pode e deve comandar nossos pensamentos. Toda pessoal normal é capaz de determinar sobre o que vai pensar. É certo que o homem perturbado ou tentado pode achar difícil controlar seus pensamentos e mesmo quando ele se concentra num objeto útil, pensamentos indóceis e fugidios podem brincar em sua mente como relâmpagos numa noite de verão. Esses são mais incômodos do que perigosos e, no longo prazo, não fazem muita diferença.

A melhor maneira de controlar nossos pensamentos é oferecer a mente a Deus em completa submissão. O Espírito Santo aceitará isso e assumirá o controle imediatamente. Será, então, relativamente fácil pensar em coisas espirituais, especialmente se nós treinarmos nossos pensamentos em longos períodos diários de oração. Uma longa prática na arte da oração mental (quer dizer, a conversa íntima com Deus enquanto trabalhamos ou viajamos) ajudará a formar o hábito do pensamento santo.

A. W. Tozer

De “Nascido Após a Meia-Noite”, Cap. 10.

Tradução: Fernando Sabóia Vieira

Um comentário:

  1. Nossa "vida mental" pode ser uma grande barreira para nossa comunicação com Deus. Lembrei-me do Sm 66: 18: "Se eu atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá".

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