sexta-feira, 25 de março de 2011

A Bondade do Senhor

lutei, me gastei
feri e fui ferido
nessas inevitáveis guerras
humanas
para, no final de tudo,
reconhecer que toda a terra
está cheia da bondade do
Senhor

apenas quando olhei
foi que vi
e a vida me fez acreditar

Fernando Sabóia, de "Versos no Altar".

terça-feira, 22 de março de 2011

Disciplinas Espirituais

"Orar é mudar. A oração é a principal via usada por Deus para nos transformar. Se não estivermos dispostos a mudar, deixaremos a oração de lado, e ela não será uma característica perceptível em nossa vida. Quanto mais próximos chegarmos do coração pulsante de Deus, mais enxergaremos a necessidade de sermos conformados a Cristo e mais desejaremos isso."

Richard Foster, "Celebração da Disciplina".

domingo, 20 de março de 2011

Disciplinas Espirituais

"As disciplinas espirituais são caminhos para longe de mim mesmo e para perto de Deus. Como minha verdadeira identidade está nEle, são também caminhos para um encontro verdadeiro comigo mesmo."

Fernando Sabóia

sábado, 12 de março de 2011

A CRISE DE PROFECIA NA IGREJA DO SÉCULO XXI

Creio que uma das mais sérias crises vividas pela Igreja moderna é a completa confusão que se formou nas últimas décadas sobre profecia, ministérios proféticos, manifestações espirituais e palavras anunciadas em nome de Deus. A efervescência carismática do final do século passado e do início deste foi acompanhada, em muitos lugares, de uma grande desordem doutrinária e pastoral. Assim, para que a Palavra profética, aquela de fato nascida no coração do Pai e conduzida por Seu Espírito, volte a ser pregada e ouvida nesta geração é necessário recuperar alguns fundamentos bíblicos e corrigir alguns conceitos e práticas.

PROFETIZAR é transmitir uma mensagem da parte de Deus. O profeta é alguém que “ouve” a mensagem do Senhor e a transmite. O profeta não escolhe o conteúdo e nem a ocasião da profecia. Apenas a veicula, a anuncia. Ele não expressa o desejo do seu próprio coração, mas fala o que o Deus lhe ordenou.

Essa simples definição, rigorosamente bíblica, é suficiente para colocar em questão vários ensinos, práticas e ministérios difundidos hoje no meio do Povo de Deus.

O profeta não diz “eu profetizo” isso ou aquilo, mas simplesmente anuncia “assim diz o Senhor”, e teme grandemente não usar em vão o Seu Santo Nome, pois sabe que Deus não terá por inocente quem o fizer.

Em conseqüência, não posso decidir profetizar sobre algo ou alguém a meu bel prazer. Não posso resolver, por exemplo, que meu filho vai ser missionário e “profetizar” isso sobre a vida dele. O que posso e devo fazer é buscar ouvir o Espírito e ser conduzido por Ele, estar em comunhão com Deus para conhecer Sua vontade.

Profetizar é diferente de abençoar. Eu posso, livremente, abençoar meu filho com todo o bem que desejo a ele. Minha bênção de pai pode mesmo se tornar profética se eu antes buscar em Deus o que Ele quer para meu filho e abençoá-lo dessa forma.

A profecia não procede de elucidação ou vontade humana, mas homens falam inspirados pelo Espírito de Deus (2ª de Pedro 1:20-21). A iniciativa é sempre de Deus, é dEle a Palavra que deve ser anunciada. Não posso “encomendar” uma profecia. Posso buscar a Deus e ouvir pessoas que são usadas por Ele, isso sabendo que toda profecia deve ser submetida ao exame das Escrituras e dos demais ministérios do Corpo.

A profecia no Novo Testamento tem principalmente a função de consolar, edificar e exortar, não sendo usada para dar direções específicas, do tipo quem se casa com quem, quem viaja, quem morre etc. Palavras nesse sentido devem ser consideraras com muitíssimas reservas, pois em geral não passam no primeiro “antivírus” [1] da alma: Jesus e os Apóstolos não fizeram nada desse tipo, não ensinaram a fazer e não aprovaram nenhuma prática dessa natureza.

Desde o Velho Testamento o ministério profético já havia se corrompido com o surgimento de profetas de “aluguel”, chamados para abençoar, amaldiçoar, respaldar as ações dos reis, agradar o povo. Muitas vezes entravam em choque com os verdadeiros profetas do Altíssimo.

Em Jeremias 23 encontramos uma severa palavra do Senhor quanto a esses profetas, que bem deveria ser seriamente considerada nos nossos dias:

Jeremias 23

Quanto aos profetas, já o meu coração está quebrantado dentro de mim; todos os meus ossos estremecem; sou como um homem embriagado, e como um homem vencido de vinho, por causa do SENHOR, e por causa das suas santas palavras.

Porque a terra está cheia de adúlteros, e a terra chora por causa da maldição; os pastos do deserto se secam; porque a sua carreira é má, e a sua força não é reta.

Porque tanto o profeta, como o sacerdote, estão contaminados; até na minha casa achei a sua maldade, diz o SENHOR.

Portanto o seu caminho lhes será como lugares escorregadios na escuridão; serão empurrados, e cairão nele; porque trarei sobre eles mal, no ano da sua visitação, diz o SENHOR.

Nos profetas de Samaria bem vi loucura; profetizavam da parte de Baal, e faziam errar o meu povo Israel.

Mas nos profetas de Jerusalém vejo uma coisa horrenda: cometem adultérios, e andam com falsidade, e fortalecem as mãos dos malfeitores, para que não se convertam da sua maldade; eles têm-se tornado para mim como Sodoma, e os seus moradores como Gomorra.

Portanto assim diz o SENHOR dos Exércitos acerca dos profetas: Eis que lhes darei a comer losna, e lhes farei beber águas de fel; porque dos profetas de Jerusalém saiu a contaminação sobre toda a terra.

Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu coração, não da boca do SENHOR.

Dizem continuamente aos que me desprezam: O SENHOR disse: Paz tereis; e a qualquer que anda segundo a dureza do seu coração, dizem: Não virá mal sobre vós.

Porque, quem esteve no conselho do SENHOR, e viu, e ouviu a sua palavra? Quem esteve atento à sua palavra, e ouviu?

Eis que saiu com indignação a tempestade do SENHOR; e uma tempestade penosa cairá cruelmente sobre a cabeça dos ímpios.

Não se desviará a ira do SENHOR, até que execute e cumpra os desígnios do seu coração; nos últimos dias entendereis isso claramente.

Não mandei esses profetas, contudo eles foram correndo; não lhes falei, contudo eles profetizaram.

Mas, se estivessem estado no meu conselho, então teriam feito o meu povo ouvir as minhas palavras, e o teriam feito voltar do seu mau caminho, e da maldade das suas ações.

Porventura sou eu Deus de perto, diz o SENHOR, e não também Deus de longe?

Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o SENHOR. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o SENHOR.

Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, profetizando mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei.

Até quando sucederá isso no coração dos profetas que profetizam mentiras, e que só profetizam do engano do seu coração?

Os quais cuidam fazer com que o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu próximo, assim como seus pais se esqueceram do meu nome por causa de Baal.

O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o SENHOR.

Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o SENHOR, e como um martelo que esmiuça a pedra?

Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu próximo.

Eis que eu sou contra os profetas, diz o SENHOR, que usam de sua própria linguagem, e dizem: Ele disse.

Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o SENHOR, e os contam, e fazem errar o meu povo com as suas mentiras e com as suas leviandades; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e não trouxeram proveito algum a este povo, diz o SENHOR.

Quando, pois, te perguntar este povo, ou qualquer profeta, ou sacerdote, dizendo: Qual é o peso do SENHOR? Então lhe dirás: Este é o peso: Que vos deixarei, diz o SENHOR.

E, quanto ao profeta, e ao sacerdote, e ao povo, que disser: Peso do SENHOR, eu castigarei o tal homem e a sua casa.

Assim direis, cada um ao seu próximo, e cada um ao seu irmão: Que respondeu o SENHOR? e que falou o SENHOR?

Mas nunca mais vos lembrareis do peso do SENHOR; porque a cada um lhe servirá de peso a sua própria palavra; pois torceis as palavras do Deus vivo, do SENHOR dos Exércitos, o nosso Deus.

Assim dirás ao profeta: Que te respondeu o SENHOR, e que falou o SENHOR?

Infelizmente vemos hoje isso no meio da Igreja: profetas autônomos, sem vínculos efetivos com o Corpo, colocando-se à disposição de “consulentes” que andam à procura de palavras que lhes agradem, falando do que vai no seu próprio coração, sem terem suas palavras julgadas pelos outros ministérios e sem estarem submisso à ordenação estabelecida pelo Senhor na Sua Casa.

Toda profecia deve ser julgada, examinada sob a luz da Palavra escrita e submetida aos demais ministérios e dons do Corpo. O profeta que resiste a isso não deve ser considerado como uma pessoa de Deus.

É preciso muito cuidado com profecias que se auto realizam. Por vezes, em alguns ambientes, as próprias pessoas envolvidas tratam de dar cumprimento à profecia, acreditando que se agirem de outra forma estarão em desobediência a uma “palavra de Deus”. Por meio desse tipo de manipulação, pessoas se casam, tomam decisões, ficam à espera de “promessas” etc.

Outra confusão enorme vem de um ensino e uma prática absolutamente estranhos às Escrituras, mas tornados populares em muitos meios cristãos: a “confissão positiva”, o “declarar”, o “determinar”, o “dar ordens no mundo espiritual”. Nada disso tem a ver com profecia e se fundamenta numa concepção equivocada de fé, associada a sugestão psicológica, poder da mente, neurolinguística e coisas afins. A palavra do homem não tem poder para produzir o que ela veicula, apenas a Palavra de Deus é capaz de criar.

A Igreja vive hoje uma profunda crise profética não por ausência de profetas, mas por excesso de pessoas que assim se intitulam e propalam, em nome do Senhor, todas as fantasias e loucuras de seus corações. A levar a sério o que se ouve, Deus constantemente muda de idéia, erra previsões, não conhece as Escrituras, se contradiz...

Há profetas verdadeiros nesta geração, mas parece que eles ou estão escondidos nas cavernas ou clamam no deserto. Falam a seus grupos particulares ou têm suas vozes abafadas pelo alarido dos modernos profetas eletrônicos, pelos marqueteiros da fé.

Cuidado irmãos. Uma doença perigosíssima para a Igreja nestes últimos dias é a “coceira no ouvido”, a tentação de buscar ouvir apenas o que nos agrada.

Como nos dias de Isaías, hoje novamente muita gente do Povo de Deus pede e obtém dos “profetas” que lhes digam “coisas aprazíveis”, que lhes “profetizem ilusões”, que não lhes falem mais do “Santo de Israel” (Isaías 30).

Agora isso ficou ainda mais fácil: é só mudar de congregação, ou de canal de TV ou procurar na rede mundial a mensagem que mais lhe agradar.

A profecia na Igreja está sempre comprometida com a vida do Corpo, de seus membros, com o propósito eterno de Deus.

Precisamos orar para que o Senhor torne esse dom abundante no nosso meio.

Fernando Sabóia Vieira

Fortaleza-Brasília, fevereiro-março de 2011, aD.



[1] Ver o texto “Três Antivírus para a Alma”, em www.baudofernando.blogspot.com.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A LEI DO ESPÍRITO E DA VIDA

- Uma Introdução a Romanos 8 –

A lei do pecado e da morte encerra uma contradição irreconciliável entre o interior do homem, onde ele reconhece a perfeição do mandamento de Deus e deseja vivê-lo, e o exterior, onde atua um princípio sobre seu corpo que o domina, impedindo-o de alcançar o bem que ele mesmo almeja.

O mandamento, que é externo, não tem o poder de produzir a santidade, que é interna, santidade que é exigida pelo próprio mandamento. Essa ruptura entre ideal e realidade, provocada dentro do ser humano pelo pecado, adoece sua alma e provoca sua desestruturação e morte. Separada de sua origem divina, esquecida de sua verdadeira identidade e sem conhecer o propósito para o qual foi criada, a alma se vê prisioneira numa existência conflituosa, confusa, contraditória, dominada por sentimentos, conceitos e paixões que aprofundam sua separação de Deus, dos seus semelhantes e de si mesma, num mundo predominantemente hostil.

Essa é a lei do pecado e da morte, um princípio inescapável que atua na natureza humana decaída – a carne – e leva inexoravelmente à corrupção e à morte. Todo esse argumento Paulo constrói e demonstra nos capítulos iniciais da sua Carta aos Romanos.

Ao chegar ao capítulo 8, o cenário se altera, assim como o tom e a linguagem. Não mais uma exposição bíblica para demonstrar a natureza e o efeito do pecado, a inutilidade da lei e das obras e a salvação pela fé, tanto para judeus quanto para gentios. Agora ele inicia uma proclamação, uma declaração solene, a expressão veemente de uma realidade inteiramente nova, eterna e gloriosa, que abre para o homem regenerado possibilidades de uma vida cheia de significado, propósito e esperança.

A lei do Espírito e da vida fundamenta-se em um ACONTECIMENTO espiritual, sobrenatural e absolutamente transformador, capaz de superar todas as contradições e paradoxos da natureza humana, devolvendo-lhe a condição perdida no Éden e conduzindo-a ao propósito eterno de Deus.

Esse ACONTECIMENTO é produto de um ato de libertação, do sacrifício de Jesus e de Sua ressurreição dentre os mortos.

- O Espírito Santo habitando no homem, regenerando-o, transmitindo-lhe vida, reavivando suas faculdades espirituais amortecidas pelo pecado, guiando-o, intercedendo por ele, produzindo comunhão com Deus, gerando identidade, adoção, derramando o amor do Pai, trazendo as certezas da fé e do propósito eterno, a realidade do Reino, a eternidade, fazendo surgir uma nova vida, com novos alvos e uma nova cosmo visão.

É um ACONTECIMENTO tão tremendo que tem repercussões na própria criação, que também sofre com o pecado do homem e será com o homem redimida na Glória do Reino eterno.

Agora, ao invés do mandamento exterior, que produz guerra na alma, a PRESENÇA INTERIOR, que é vida e paz. Não mais a fraqueza do corpo, mas o poder que ressuscitou Jesus dentre os mortos. Libertos da escravidão do pecado, livres para desejar, escolher e amar a Deus.

Tudo isso está potencialmente em nós pela Presença do Espírito e sua realização só depende de nossa inclinação para Ele, de nós O preferirmos às concupiscências da carne, de andarmos nEle.

Não podemos substituir a realidade dessa Presença por mandamentos, ainda que mui elevados, por padrões exigentes de santidade, por uma nova e rigorosa ortodoxia ou por uma revelação especial de algum aspecto das Escrituras. Se o fizermos, corremos o risco de anular a Cruz de Cristo, de apagarmos o Espírito e de produzirmos um abismo ainda maior entre o humano e o divino – abismo que Jesus veio eliminar com seu esvaziamento e encarnação, e voltaremos ao terreno infrutífero e desesperador das possibilidades humanas.

A característica mais marcante de nossa vida como indivíduos e da Igreja como Corpo de Cristo deve ser a PRESENÇA DE DEUS em cada um de nos e entre nós, a consciência constante dela e a busca contínua de sua manifestação.

Caso contrário, seremos vazios, ritualistas, legalistas, religiosos... e não filhos, discípulos, adoradores, família, Igreja.

Por que, muitas vezes, não vivemos dessa maneira? Por que em nossa vida pessoal e comunitária nos falta, freqüentemente, esse pulsar vivo da Presença? Como podemos caminhar na direção dessa dinâmica de existência e experimentar as graças que o Senhor quer nos conceder pelo Seu Espírito atuando em nós e por meio de nós?

Esse é o tema sobre o qual queremos meditar nesses dias de retiro e, mais do que meditar, queremos nele dar passos, vencer obstáculos, crescer em entendimento e em experiência.

Certamente somos muito limitados para tratar disso e também não será num período de tão poucos dias que conseguiremos fazer um trabalho que deve ser tarefa para toda nossa vida, cotidianamente.

Mas confiamos na Presença do Senhor aqui, em nós e no meio de nós. Sabemos que Ele veio habitar dentro de cada um de Seus filhos e no meio do Seu povo e que Ele quer se revelar, quer nos amar e quer, para isso, nos encher com Seu Espírito. Somente Ele pode trazer o ensino, a fé, a disposição, quebrar as barreiras, perdoar os pecados que nos distanciam dEle, revelar Jesus e transmitir Sua vida.

Uma coisa, no entanto, é essencial da nossa parte. Temos que desejar profundamente esse encontro com Deus e estarmos dispostos às renúncias, às buscas, às transformações e aos consertos que isso implica.

Como é Ele próprio quem desperta esse anseio no nosso coração, é necessário começar pedindo ao Senhor que desperte em nós essa aspiração, a consciência e o sentimento de ausência da Casa do Pai, com o qual nascemos, que se manifesta por vezes como uma angústia, um vazio, uma vocação para a eternidade e para a perfeição que nós mesmos não sabemos de onde vem e como explicá-la.

“Fizeste-nos, ó Deus, para Ti mesmo, e nosso coração permanece inquieto enquanto não encontra repouso em Ti.”

Agostinho

“Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim por Ti, ó Deus, anela a minha alma, a minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo...”

Salmo 42

Tenho apenas hoje

Minha vida é um breve instante,
uma hora que passa,
minha vida é um momento
que eu não tenho o poder de reter.

Tu sabes, meu Senhor,
que para Te amar aqui nesta terra
eu tenho apenas hoje.


Thérèse de Lisieux

“... no teu nome e na tua memória está o desejo da nossa alma...”

Isaías 26

"Como já disse antes: a razão pela qual amamos a Deus é Ele mesmo. Digo com verdade, pois Ele é a causa eficiente e final desse amor. É Ele quem para isso proporciona a oportunidade, suscita o movimento e cumpre o desejo. Ele fez com que O amemos, ou antes, Ele se fez tal que temos que amá-lO. Ele nos inspira a esperança de amá-lO um dia com um amor mais feliz, pois do contrário em vão O amaríamos. Seu amor por nós prepara e recompensa nosso amor por Ele.

Ele se antecipa a nós com Sua bondade, se faz amar em resposta a Sua justiça e nada é mais doce do que atender a Ele.

Ele é rico o bastante para suprir a todos os que o invocam, mas Ele não tem nada mais precioso para dar do que a Si mesmo. Ele se deu para merecer nosso amor, Ele se reservou para ser nossa recompensa; Ele é o alimento servido às almas santas, a vítima entregue para resgate das almas cativas."

Bernard de Clairvaux

“Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força”

Deuteronômio 6

Dá-me a Ti mesmo

Senhor, por Tua Bondade, dá-me a Ti mesmo, pois Tu és suficiente para mim, e somente em Ti eu posso ter todas as coisas.

Juliana de Norwich

“Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias, para contemplar sua beleza e meditar no seu templo”

Salmo 27

“Ó Deus, Tu és meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de Ti; meu corpo de almeja, como em terra árida, exausta, sem água”

Salmo 63

Cântico dos Cânticos

Há um único cântico
Que encerra todos os cânticos
E notas e tons
Que expressa todas as harmonias
E sentimentos e sons

Quero encher a minha vida
Com essa canção
Com a palavra mais querida
Com a melhor oração

Só um nome, Teu nome, Jesus
É a canção
E a melodia
E a oração
E a harmonia
Que tudo desperta
Que tudo eleva
Que minha alma liberta
E minha vida enleva


Fernando Sabóia
de "Versos no Altar"

Dois obstáculos iniciais devem ser desde logo removidos. O primeiro é a idéia de que não somos dignos do Encontro. Jesus morreu na Cruz para nos abrir esse novo e vivo caminho para Deus. Não é a minha dignidade que conta, mas a dEle. Além disso, fomos criados pelo Pai para essa união com Ele, no Seu Reino, como participantes da Sua Glória. Humildade é receber o que Ele gratuitamente nos oferece em Cristo, é viver na Sua Graça.

O segundo é um sofisma construído como doutrina a partir do fato da onipresença de Deus e da noção de que, ao nos convertermos, já temos o Senhor habitando em nós com todos os seus dons e Graça. Essas são verdades preciosas da nossa fé.

O raciocínio falso, no entanto, é o de que, já que O temos e que Ele está em toda parte, não precisamos buscar a Sua Presença, nem fazer qualquer esforço pessoal para estar com Ele e para sermos cheios de Sua Plenitude.

Ele está em toda parte o tempo todo, mas nós não estamos sempre na Sua Presença, nem ela é manifestada para nós continuamente. Podemos, às vezes, dizer como Jacó: “O Senhor está de fato neste lugar, mas eu não o sabia”.

Disse Santo Agostinho: "Viver perto ou longe de Deus não uma questão de espaço, mas de afeto. Amas a Deus? Estás perto d'Ele. Se O esqueces, estás longe d'Ele. Sem sair do lugar, podes estar perto ou longe".

AW TOZER usa uma imagem muito vívida para falar dessa busca de Deus, da não acomodação com uma vida correta doutrinariamente mas carente da Presença do Pai.

Segundo ele, é como se nos contentássemos em erguer o altar, dispor a lenha para o sacrifício e imolar a vítima, sem nos incomodarmos com a ausência do fogo vindo do Alto. Não era esse o coração de Elias e dos profetas, dos homens e mulheres que andaram com Deus. Amavam o altar e a oferta, mas não estavam dispostos a desistir do fogo.

Nós podemos fazer o mesmo em nossas vidas: termos tudo bem ordenado, organizado, dentro da melhor doutrina e padrão de santidade, com bons ensinos e práticas sobre todas as coisas, mas – que imensa tragédia! – sem o fogo da Presença, sem paixão pelo Senhor, sem o enchimento do Espírito, sem experimentar aquilo de tanto falamos, como abundância do fluir de Deus, de paz, de poder, de amor, de esperança.

Irmãos queridos, se os pais terrenos querem dar boas coisas aos filhos, quanto mais nosso Pai Celeste deseja nos dar o Espírito Santo. É tempo de busca, de consagração, de suplicarmos por Ele. Esse é o único propósito deste retiro.

A Presença do Senhor, o Seu Espírito, é como o ar que nos envolve. Está em todo lugar, invisível mas sensível, nela “existimos e nos movemos”, mas precisamos respirar, fazer um esforço para trazê-la para dentro de nós a fim de que sejamos cheios dessa Presença e da vida que ela gera e sustenta.

Que a graça de Jesus seja com todos.

Fortaleza-Brasília, fevereio-março de 2011, aD.

Fernando Sabóia Vieira

sexta-feira, 4 de março de 2011

Três "Antivírus" para a Alma

A alma funciona como se fosse o “sistema operacional” do ser humano. (Que tempos estes em que usamos a máquina, criada pelo homem, para tentar entender o próprio homem!). É na alma que “rodam” os “programas” necessários a uma vida funcional e saudável: o estado de consciência, o pensamento, a vontade, a memória, a inteligência, a emoção, a imaginação, a consciência moral, o senso de justiça, de verdade e de beleza, os valores.

Como ocorre com os computadores e com o corpo biológico, a alma sofre constantes ataques de agentes destrutivos capazes de comprometer sua funcionalidade e de corromper sua integridade. É, pois, imprescindível protegê-la contra esses inimigos.

“Programas piratas”, “sites” não confiáveis ou mesmo o simples “navegar pela rede” podem introduzir na alma conceitos falsificados, amores degenerados, vontades rebeladas, experiências corrompidas, perdas não superadas, temores, tristezas, más lembranças e outros semelhantes que atuam como “vírus”, pois afetam não apenas uma situação específica, mas, se não tratados, contaminam todo o organismo.

Jesus nos adverte sobre as coisas que “provém do coração” e que contaminam todo o homem: “maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias” (Mateus 15:19).

Também os apóstolos nos exortam quanto à necessidade de manter a alma (mente, coração) preservada e santa, livre de agentes contaminadores, como a amargura, a ira, a inveja, a impureza, a avareza etc.

Todos esses agem como “vírus” na alma. Instalam-se num ponto específico, desenvolvem-se silenciosamente, apresentam sintomas iniciais de aparência inofensiva. Depois, vão se alastrando, contaminando outros órgãos e comprometendo funções vitais. É como uma gripe pode virar uma pneumonia ou uma ferida infeccionar.

Quantas pessoas não ficam marcadas por uma má experiência em uma área da vida e acabam se tornando completamente amarguradas, ou raivosas, ou pessimistas, ou descrentes, ou agressivas ou covardes?

Quantas não são vítimas de um conceito falso, de uma palavra frívola, de um pensamento distorcido que as levou a más decisões que comprometeram toda a vida?

Um vírus virtual pode “travar” todo o computador e mesmo inutilizá-lo. Pode fazer o mesmo um vírus biológico, provocando uma infecção generalizada e falência de órgãos vitais.

Os vírus da alma atuam do mesmo modo, produzindo danos semelhantes. Há, no entanto, “programas” capazes de detectar e eliminar essas infecções. Quero recomendar três “antivírus” que, corretamente utilizados, podem nos proteger com eficiência desses agentes letais. São testes de validação que aplicáveis a conceitos, práticas, experiências, ensinos, pensamentos, palavras, sentimentos, inclinações, vontades, sugestões e estímulos que constantemente nos acometem e nos pressionam, produzidos pelo mundo, pelos acontecimentos, pelos relacionamentos, pelo pecado, pelo inimigo, por nós mesmos.

O primeiro teste ou “antivírus” da alma pode ser chamado de teste da igreja reformada ou “cristocêntrico”. Consiste em submeter o “agente agressor” – o pensamento, palavra, sentimento, conceito, prática, ensino etc. - às seguintes perguntas:

- Jesus fez isso? Ensinou a fazer isso? Aprovou isso?

- Os apóstolos fizeram isso? Ensinaram? Aprovaram?

Se as respostas forem negativas, cuidado! É vírus! Apague o mais rapidamente possível!

Esse teste é excelente para detectar ensinos humanos, práticas religiosas, legalismos, falsas profecias, autoritarismos, conceitos errados. Trata- se de uma avaliação fundamentalmente bíblica e é definitiva para identificar absolutos: só pode ser considerada verdade indiscutível o que está claramente afirmado na Bíblia e só é mandamento o que Jesus e os apóstolos ordenaram. E isso em textos diretos, não simbólicos, não passíveis de interpretações livres.

Para usar esse “antivírus” deve-se conhecer muito bem Jesus, Sua vida, ensino e obra, assim como registrados no Novo Testamento.

Muitos erros doutrinários, práticas estranhas, ensinos deturpados e enganos poderiam ser evitados com essas simples perguntas que nos remetem aos fundamentos da fé e à revelação escrita de Deus, onde encontramos os fatos e as palavras de salvação em Jesus Cristo.

O segundo “antivírus” é o teste do propósito eterno de Deus ou “teocêntrico”. Diante de qualquer situação, palavra, pensamento ou sentimento, decisão proposta etc. pergunte:

- Isso está de acordo com o propósito eterno de Deus? Contribui para ele? Produz santidade, edificação? Submete tudo ao senhorio de Jesus?

Devemos sempre nos lembrar com clareza qual o propósito para o qual fomos criados. O Senhor quer um povo, uma família de muitos filhos santos como Jesus e, para isso, está fazendo convergir todas as coisas para debaixo do governo de Cristo, estabelecendo o Seu Reino.

Assim, esse é um teste que nos dá um princípio de interpretação e de discernimento da realidade e de tudo o que acontece. Deus está agindo soberanamente em todas as coisas para que elas cooperem para o Seu propósito.

Tudo o que não está de acordo com esse propósito ou não contribui para ele, tudo o que não se submete a Jesus, tudo o que não tem como fim último a santidade, a edificação do corpo e a proclamação do Reino, no mínimo, não é importante e é, potencialmente, um “vírus” para a alma, mesmo que seja algo lícito em si mesmo.

Não raro nos contaminamos com coisas que seriam boas em si mesmas, mas que, por não terem entrado em nossa vida para contribuir com o propósito de Deus ou por não estarem debaixo do governo de Jesus acabam se tornando desvios, ídolos, tentações, “vírus” para a alma.

Esse teste nos mantém no alvo, organiza nossa mente, traz paz ao coração e coloca em ordem nossas prioridades. Ordena e sossega nosso interior para produzir frutos de vida no Reino de Deus, nos livrando de coisas inúteis, fúteis e perigosas.

O terceiro “antivírus” é o teste do Corpo de Cristo ou “espiritocêntrico”. O “agente agressor” - a questão ou situação, pensamento, idéias, proposta, sentimento etc. - deve ser colocado sob o exame da Igreja e submetido ao ministério carismático dos irmãos. Questione:

- Houve conselho? Foi exposto na luz, submetido ao exame dos irmãos? Há paz no Corpo? Houve busca de direção e manifestação do Espírito Santo? O que dizem os irmãos com os quais estamos comprometidos e vinculados?

Esse teste deve ser usado com cuidado, sempre associado aos dois anteriores, para evitar subjetivismos, personalismos, enganos do coração e abusos de autoridade.

Ele é muito importante porque pode tratar de situações da vida cotidiana para as quais não há, por vezes, um preceito bíblico diretamente aplicável ou não é possível antever os resultados de ações ou propósitos.

Para usar esse “antivírus” devemos estar em relacionamentos fortes, definidos, pessoais e comprometidos com o propósito eterno de Deus. Também é necessário que esses vínculos sejam canais pelos quais o Espírito Santo manifeste Seu Poder e Graça por meio dos dons, operações e serviços.

Devemos nos lembrar que nossa edificação é uma tarefa coletiva e recíproca, marcada pelas mutualidades do Corpo: amar uns aos outros, exortar uns aos outros, edificar uns aos outros, consolar uns aos outros etc.

A paz que deve presidir nossa via é a paz de Cristo, no qual fomos chamados em um só corpo. É, pois, a paz de Cristo e a paz do Seu Corpo. É coletiva e não individual. É uma experiência da Igreja e não um sentimento pessoal. Muitos se contaminam porque preferem agir com independência e não permitem que o Senhor toque suas vidas por meio do Seu Corpo.

Esse três “antivírus” da alma se complementam e devem ser usados em conjunto regularmente. É muito importante que freqüentemente façamos uma “varredura” na alma para detectar contaminações que podem nos causar grandes danos. Isso se faz com leitura da palavra, oração, meditação, exame de consciência, confissão.

Deus mesmo nos proporciona experiências destinadas a “formatar” nossa alma e nos trazer renovação, restauração, regeneração e cura.

O Senhor disse, por Seu profeta, que somos como barro nas mãos do Oleiro: Ele pode nos amassar, purificar e fazer de novo úteis para Seu propósito.

Graça de Jesus seja com todos.

Fernando Sabóia Vieira, Brasília, DF, 2011, aD.

PS: Agradecimentos ao Saulo Afonso por suas cuidadosas anotações da mensagem original e pertinentes sugestões.