sexta-feira, 31 de março de 2023

Poesia em tempo de reciclagem

 

 

Faço poesia do que sobrou

Do que se quebrou

De pequenas coisas inúteis

E abandonadas

Que vão se acumulando no tempo

Em qualquer armário velho da vida

Em gavetas emperradas da memória

Que ninguém se lembra mais

De abrir

 

São palavras que perderam o momento

E o sentimento

Sorrisos inutilizados

Pela ironia

Emoções descartadas pelo desencanto

E pelo desencontro

Sonhos e lembranças esquecidos

De uma infância e juventude

Que nem são mais de ninguém

 

Vou calado

Catando e colando

Romântico

Polindo e juntando

Distraído

Mesclando e pintando

Brincando de fazer arte

No meio dos lixões das almas sucatadas

Consumidas

Quebradas pelo caos da vida

 

Que é minha maneira

De sobreviver menino

De fazer da poesia, profecia

Da morte, ressurreição

Do lixo, esperança

 

 

Fernando

De "Crônicas do Caos"

2009

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