Poesia em tempo de reciclagem
Faço poesia do que sobrou
Do que se quebrou
De pequenas coisas inúteis
E abandonadas
Que vão se acumulando no tempo
Em qualquer armário velho da vida
Em gavetas emperradas da memória
Que ninguém se lembra mais
De abrir
São palavras que perderam o momento
E o sentimento
Sorrisos inutilizados
Pela ironia
Emoções descartadas pelo desencanto
E pelo desencontro
Sonhos e lembranças esquecidos
De uma infância e juventude
Que nem são mais de ninguém
Vou calado
Catando e colando
Romântico
Polindo e juntando
Distraído
Mesclando e pintando
Brincando de fazer arte
No meio dos lixões das almas sucatadas
Consumidas
Quebradas pelo caos da vida
Que é minha maneira
De sobreviver menino
De fazer da poesia, profecia
Da morte, ressurreição
Do lixo, esperança
Fernando
De "Crônicas do Caos"
2009
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