domingo, 25 de fevereiro de 2018

Sobre a "Jornada..."

Vocação


Para ti, a pérola mais
preciosa,
o dom perfeito:

Sofrer as minhas dores,
amar as minhas palavras;
caminhar os meus desertos,
só querer a minha glória.

- Andarás solitário na multidão
e nunca terás consolo
enquanto houver um aflito
no meio do meu povo;
sobre ti, mais pesada a minha mão
e mais evidente a minha graça.

Serás profeta.


Fernando Saboia Vieira
de "Veredas no Deserto", 1995.


Companheiros de Jornada em Busca da Vida Interior,


Quando escrevi esses versos eu não podia entender a profundidade da revelação e da vocação que estava recebendo da parte de Deus. Era jovem demais e inexperiente demais nas lutas e sofrimentos da vida e da causa de Cristo. Mas, ainda que ingenuamente, me dispus a caminhar com Ele e a falar me Seu nome, e Sua graça foi se tornando cada vez mais necessária e evidente na minha vida, a cada dia e a cada desafio. Ainda hoje, pregar em nome do Senhor me enche de temor, de dor, de alegria, de quebrantamento, de graça, de dúvidas e de certezas, tudo ao mesmo tempo. É difícil falar e é, às vezes, impossível calar.

Tantos anos depois, tenho aprendido e recebido uma medida mais intensa de sofrimento e de graça: chamado para ser pastor, ser pai de todos, ter o coração unido a todos, ir à frente nos perigos e incertezas, permanecer ao lado nas dores e nas alegrias e ser o último em tudo o mais. Não se trata de um serviço apenas, mas de uma profunda e muitas vezes dolorosa jornada de transformação pessoal, de amor a Deus, de pertencer apenas a Ele, de ser canal do Seu amor e da Sua misericórdia. Mais necessária ainda Sua suficiente e poderosa graça!

Um fruto inesperado e maravilhoso dessa "Jornada"? Uma inexplicável paz e uma celestial alegria, que surgem da experiência e da consciência da Presença, momento após momento, e que se unem numa poderosa manifestação de Deus na alma humana: o contentamento.

Que a graça de Jesus seja com todos quantos amam a Sua vinda!

Fernando



sábado, 24 de fevereiro de 2018

Esperar em Deus

ESPERAR EM DEUS POR SUPRIMENTOS
Andrew Murray


“O Senhor sustém os que vacilam e apruma todos os prostrados. Em ti esperam os olhos de todos e tu, a seu tempo, lhe dás o alimento”
Salmo 145:14-15


         O Salmo 104 é um Salmo da Criação, e as palavras “esses todos esperam em Ti” são usadas em referência ao mundo animal. Aqui temos um Salmo do Reino, e as palavras “em ti esperam os olhos de todos” se referem especificamente às necessidades dos santos de Deus, de todos os que vacilam e daqueles que se acham prostrados. Aquilo que o universo e o mundo animal fazem inconscientemente, o povo de Deus deve fazer inteligente e voluntariamente. O homem deve ser o intérprete da natureza. Ele deve demonstrar que não existe nada mais nobre e mais abençoado no exercício de sua livre vontade do que usá-la para esperar em Deus.
         Se um exército tiver sido enviado para marchar sobre um país inimigo e houver notícias de que ele não está avançando, logo é feita a pergunta sobre a causa do atraso. A resposta, frequentemente, será: “esperando por suprimentos”. O abastecimento de provisões, roupas ou munições não foi completado ainda, sem isso ele não ousa prosseguir. Não é diferente na vida cristã: dia após dia, a cada passo, necessitamos dos nossos suprimentos do Alto. E não existe nada tão necessário quanto cultivar aquele espírito de dependência de Deus e de confiança n’Ele que se recusa a prosseguir sem o necessário suprimento de graça e de poder.
         Caso seja feita a pergunta sobre se isso é algo diferente do que fazemos quando oramos, a resposta é que é possível haver muita oração com pouco esperar em Deus. Na oração estamos, muitas vezes, ocupados conosco mesmos, com nossas próprias necessidades e com nossos próprios esforços em apresentá-las. No esperar em Deus, o primeiro pensamento está no Deus em quem nós esperamos. Entramos em Sua Presença e sabemos que necessitamos apenas nos aquietar a fim de que Ele, como Deus, possa nos revestir d’Ele mesmo. Deus quer revelar-se a Si mesmo, para nos encher d’Ele mesmo. Esperar em Deus dá a Ele tempo para agir à Sua própria maneira e poder divino para vir até nós.
         É especialmente no tempo de oração que nós devemos nos dedicar a cultivar esse espírito.
     Antes de orar, curve-se, silenciosamente, diante de Deus, apenas para se lembrar e tomar consciência de quem Ele é, do quão perto Ele está e do quão certamente Ele pode e irá nos socorrer. Tão somente se aquiete diante d’Ele e permita que Seu Santo Espírito desperte e faça crescer em sua alma a disposição infantil de dependência absoluta e expectativa confiante.  Espere em Deus como um Ser Vivo, como o Deus Vivo, que presta atenção em você e que está apenas desejando preencher você com Sua salvação. Espere em Deus até saber que O encontrou. A oração se tornará, então, muito diferente.
         E quando estiver orando, que haja intervalos de silêncio, de reverente quietude de alma, em que você se apresenta a Deus disponível para o que Ele tenha a lhe ensinar ou a trabalhar em você.  Esperar n’Ele se tornará a parte mais abençoada da oração, e as bênçãos assim obtidas serão duplamente preciosas como o fruto de tal companheirismo com o Santo. Deus assim dispôs, em harmonia com Sua natureza e com a nossa, que esperar n’Ele deva ser a honra que devemos lhe prestar. Vamos oferecer esse culto a Ele alegre e verdadeiramente e Ele vai nos recompensar abundantemente.        
“Em ti esperam os olhos de todos e tu, a seu tempo, lhe dás o alimento”. Cara alma, Deus provê na natureza o necessário para Suas criaturas, quanto mais Ele não proverá em Graça para aqueles que Ele redimiu. Aprenda a dizer em cada desejo, em cada fracasso e em cada carência da graça necessária: esperei muito pouco ainda no Senhor, ou Ele já teria me dado no tempo devido tudo o que preciso. E a dizer também “Somente em Deus espera, oh minha alma!”

         Andrew Murray, “Waiting on God”, traduzido a partir do texto disponível em domínio público em www.ccel.org, por Fernando Saboia Vieira, para o www.baudofernando.blogspot.com.