I
A
misericórdia do Senhor é como uma chuva
Repentina
nesta permanente seca
Que
domina minha alma
Uma
dádiva sem data e sem propósito
Num
dia de perturbação e de silêncio
Se
eu pudesse apenas fecharia os olhos
E
deixaria esta tarde fresca e tranquila
-
como um Noturno de Chopin -
Resolver
todas as coisas essenciais:
O
ar, a vida criando e recriando a vida
A
terra, a vontade de encontrar, de compartilhar
O
fogo, uma canção comovente, alegre e pungente
A água,
a esperança do sol na contemplação da lua
II
Digo
adeus aos meus silenciosos
E
eloquentes amigos de papel
Companheiros
de infância,
Amigos
(raros) da minha adolescência
Introspectiva
e solitária
Alguns
cheguei a conhecer intimamente
De
capa a capa, cada palavra
E
fazem parte do que eu sou
Transcritos
nas páginas da alma
Com
as tintas das alegrias e medos
Das
mágoas e sonhos
Outros,
apenas folheados, eram visitas
Breves,
mais prometidas do que cumpridas
Na
rotina obscurantista da vida
Num
eventual tempo
Em
lugar indeterminado...
Mas
amigos sempre estão presentes
No
diálogo incessante da saudade
III
Vou
seguir na jornada do encontro
Em
busca da voz que me chama
Levando
perdas e partidas
O
coração aquecido na chama
Da
lembrança de onde nunca estive
Espera-me
o que me vê e sabe
Sabe
porque sempre esteve presente
Na
distância imensa
Na
agonia intensa
Desse
caminho doloroso de tão belo
IV
Como
já está um pouco
tarde
serei
apenas eu mesmo
e
tratarei de suportar
com
divina paciência
essa
chatice
de
me prever o tempo todo.
Ser
humano
às
vezes me dá preguiça.
Agora
espero tranqüilamente
ser
alado.
Fernando Sabóia,
De “Meu Caminho Coberto de Flores de Ipê Roxo”,
2011, ainda inédito.
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