quarta-feira, 24 de agosto de 2016

PALAVRA PARA OS PAIS


UMA REFLEXÃO SOBRE NOSSO PAPEL

Fernando Sabóia Vieira – agosto 2016

 

         Um grande problema de algumas abordagens bíblicas no nosso meio tem sido, a meu ver, a tentativa de elaborar prescrições lineares em temas que são tratados nas Escrituras muito mais em termos de paradoxos. Aliás essa é uma tradição notável da sabedoria semítica, expressa nos livros de Provérbios, Eclesiastes, Salmo e outros.

         A criação dos filhos nos lares cristãos é um desses desafios da espiritualidade para os quais não temos um manual de regras, senão princípios e direções que apontam para o propósito de formar neles a Imago Dei.     

Sugiro, assim, para reflexão, alguns paradoxos relacionados com a nossa tarefa de pais:

 

1)   Devemos criar nossos filhos submissos a Deus e livres em Deus. Submissão e liberdade fazem parte do ser nova criatura;

 

2)   Eles devem ser quebrantados em Deus e fortes em Deus. Descobrir a força de ser fraco e o poder de depender de Deus;

 

3)   Eles são herdeiros do passado e criadores do futuro: tradição e não tradicionalismo, expressão da multiforme sabedoria e graça de Deus no tempo presente, da novidade de vida e da eternidade;

 

4)   Nós devemos ser para eles exemplos a serem imitados, mas não matrizes a serem reproduzidas. Deus os fez para serem pessoas diferentes de nós;

 

5)   Eles devem ser formados e não adestrados. Amadurecer é se tornar mais consciente de suas próprias escolhas e das consequências delas e não meramente repetir comportamentos aprendidos;

 

6)   Devemos dar a eles referências para a viagem e não um mapa do caminho, mesmo porque o Caminho é uma Pessoa e não haverá duas viagens iguais;

 

7)   Filhos não são o sentido da vida dos pais, não são sua segunda chance de fazer tudo certo, não são seus troféus. São companheiros de jornada.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Misericórdia

Domingo, 17 de julho de 2016
Misericórdia



Na minha leitura diária da Bíblia me deparei com esse texto de Isaías que me chamou a

atenção.

Naquele dia, haverá cinco cidades na terra do Egito que falarão a língua de Canaã e

farão juramento ao SENHOR dos Exércitos; uma delas se chamará Cidade do Sol.

Naquele dia, o SENHOR terá um altar no meio da terra do Egito, e uma coluna se erigirá

ao SENHOR na sua fronteira. Servirá de sinal e de testemunho ao SENHOR dos

Exércitos na terra do Egito; ao SENHOR clamarão por causa dos opressores, e ele lhes

enviará um salvador e defensor que os há de livrar. O SENHOR se dará a conhecer ao

Egito, e os egípcios conhecerão o SENHOR naquele dia; sim, eles o adorarão com

sacrifícios e ofertas de manjares, e farão votos ao SENHOR, e os cumprirão. Ferirá o

SENHOR os egípcios, ferirá, mas os curará; converter-se-ão ao SENHOR, e ele lhes

atenderá as orações e os curará. Naquele dia, haverá estrada do Egito até à Assíria, os

assírios irão ao Egito, e os egípcios, à Assíria; e os egípcios adorarão com os assírios.

Naquele dia, Israel será o terceiro com os egípcios e os assírios, uma bênção no meio

da terra; porque o SENHOR dos Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito,

meu povo, e a Assíria, obra de minhas mãos, e Israel, minha herança. (Isaías 19:18-25)


Me chamou a atenção porque em todo o Velho Testamento tanto a Assíria quanto o Egito são

imagens de tudo que há de ruim no mundo. Muitas vezes o Egito é usado como uma figura para

o próprio mundo, o próprio diabo, um lugar em que estávamos aprisionados em nossos

pecados. A Assíria muitas vezes é retratada como o capataz de Israel, um povo mal, idolatra e

perseguidor do povo de Deus. Esses dois povos, no nosso imaginário cristão, deve ser

destruído. Pensamos que Deus deve mandar fogo do céu para consumir todos eles, castigar

seus pecados e saciar sua justiça. Ficaríamos muito felizes de isso acontecesse.

Entretanto, nesse texto, está claro que o coração de Deus não é esse. Ele usou o Egito para

ensinar o povo de Israel, assim como os assírios. Mas Deus quer também a salvação deles. O

desejo do coração de Deus é usar de misericórdia e salvá-los também ("porque o SENHOR dos

Exércitos os abençoará, dizendo: Bendito seja o Egito, meu povo, e a Assíria, obra de minhas

mãos, e Israel, minha herança").

O primeiro pensamento que me veio à mente foi de que nada é impossível para Deus. Não há

milagre que Ele não possa operar, não há restauração difícil demais para Ele. Deus quer

restaurar a todos e trazer todos ao arrependimento e Ele pode fazer isso. Se até ao Egito e à

Assíria ele pode redimir, que dirá nossos próprios pecados, se nos arrependermos.

Segundo, me deparei com meu próprio coração. Como, muitas vezes, sou cheia de justiça

própria, disfarçada da própria justiça de Deus, quando estou diante de uma situação de pecado

de alguém. Às vezes, lá no fundo, queremos que as pessoas paguem pelos seus pecados,

sofram algum tipo de condenação e castigo pelas suas más condutas. Não necessariamente

aquele sofrimento inflingido por Deus para trazer alguém ao arrependimento, mas um castigo,

uma pena a ser cumprida para saciar nossa indignação e noção de justiça, que nada tem a ver

com a Justiça de Deus. E quando a pessoa verdadeiramente se arrepende e é recebida por

Deus de braços abertos "como se nada tivesse acontecido", sentimos que algo está faltando, o

castigo, a pena. É o coração do irmão do filho pródigo que se revela. Ele não se alegra com a

misericórdia de Deus.
 
 
Rafaela Widmer Saboia Vieira


Carta a Jovens Pais


Brasília, no primeiro dia de agosto de 2016, AD.

 

         Aos jovens pais, Gustavo e Rafaela e a todos os outros pais e mães companheiros de jornada,

Que a incompreensível Paz de Jesus guarde a mente e o coração de vocês nesses dias tão intensos de esperas, ansiedades, pensamentos, planos, temores, sonhos e sentimentos que prenunciam uma nova vida.

Que essa Paz guarde seus pensamentos e os proteja contra as dúvidas, as incertezas, os conflitos de ideias, de conceitos e de conselhos que certamente lhes sobrevirão. Busquem refúgio e proteção nos pensamentos de Deus aos quais vocês têm acesso na Paz de Cristo à qual foram chamados. Abriguem-se na Sua verdade, na Sua santidade, na suficiência do Seu poder revelados na vida de vocês. Não se rendam ao pessimismo, ao ceticismo, ao caos aparente da vida. Não estamos envolvidos numa loteria cósmica. Vivemos o propósito eterno de Deus que opera em todas as coisas no sentido de Sua vontade. Assim, ocupe o pensamento de vocês tudo o que for do alto, que for bom, que for virtuoso, que for de boa fama, que for louvor ao Senhor.

Vocês saberão, a cada dia, o que fazer. Saberão escolher, saberão decidir, saberão confiar no Senhor. O Espírito Santo continuamente lhes comunica a mente de Cristo. Não se trata de acertar sempre, mas de crer e confiar sempre no Deus que é maior do que nossos erros e cujo propósito para esse menino não será frustrado por eventuais falhas de seus pais.

Que essa incompreensível Paz guarde também o coração de vocês e os proteja dos sentimentos sombrios, e negativos que poderão lhes ocorrer quando considerarem o estado deste mundo caído e mau, quando pesarem os cuidados necessários com a família, quanto tentarem antever o futuro.

Não se turbe o coração de vocês. Creiam em Deus e creiam em Jesus. Encham-se dos sentimentos de Deus, da Sua alegria com a vida que Ele mesmo cria e sustenta, o Seu constante amor para com cada ser criado à Sua Imagem e Semelhança.

Novamente, é o Espírito quem derrama em nosso coração esse amor do Pai a cada momento em que vivemos e esse amor é repleto de cuidado, de proteção, de amizade, de comunhão, de ternos afetos. Nas ocasiões mais difíceis será sempre esse amor a nos sustentar e nos proteger a alma, na Paz de Cristo.

Essa Paz, como sabem, é produto da nossa reconciliação com Deus feita por Jesus na cruz. Ela não depende de circunstâncias da nossa alma ou do mundo em que estamos. Não está fundada na economia, na política, na ciência nem na nossa capacidade e sabedoria. O que temos a fazer é tão somente nos colocarmos sempre na Sua Presença e apresentarmos, em oração e súplica, todos os nossos anseios, dúvidas, medos, necessidades, sonhos e pedidos, com ações de graças.

Finalmente, permitam-me citar um texto de Lady Juliana de Norwich, do meu ‘baudofernando’:

“Também ele me mostrou uma coisa muito pequenina... Eu me admirei de como tal coisa poderia subsistir, porque conjecturei que ela poderia, de repente, desaparecer, de tanta pequenez. E me foi respondido no meu entendimento: ‘ela subsiste e sempre subsistirá porque Deus a ama’. Então, tudo tem o seu ser por causa do amor de Deus. Nessa pequenina coisa eu vi três propriedades: a primeira, que Deus a fez, a segunda, que Deus a ama e a terceira, que Deus a mantém”.

Esse pequeno que vocês têm (ou logo terão) nos braços, Deus o criou, Deus o ama e Deus o sustenta. Assim como a vocês. Que o Deus da Paz os guarde na suficiente graça de Jesus e na consolação do Seu Espírito.

Fernando Saboia Vieira