Fernando Sabóia Vieira – agosto 2016
Um grande problema de algumas abordagens
bíblicas no nosso meio tem sido, a meu ver, a tentativa de elaborar prescrições
lineares em temas que são tratados nas Escrituras muito mais em termos de
paradoxos. Aliás essa é uma tradição notável da sabedoria semítica, expressa
nos livros de Provérbios, Eclesiastes, Salmo e outros.
A criação dos filhos nos
lares cristãos é um desses desafios da espiritualidade para os quais não temos
um manual de regras, senão princípios e direções que apontam para o propósito
de formar neles a Imago Dei.
Sugiro, assim, para reflexão, alguns paradoxos
relacionados com a nossa tarefa de pais:
1)
Devemos
criar nossos filhos submissos a Deus e livres em Deus. Submissão e liberdade
fazem parte do ser nova criatura;
2)
Eles
devem ser quebrantados em Deus e fortes em Deus. Descobrir a força de ser fraco
e o poder de depender de Deus;
3)
Eles são
herdeiros do passado e criadores do futuro: tradição e não tradicionalismo,
expressão da multiforme sabedoria e graça de Deus no tempo presente, da
novidade de vida e da eternidade;
4)
Nós
devemos ser para eles exemplos a serem imitados, mas não matrizes a serem
reproduzidas. Deus os fez para serem pessoas diferentes de nós;
5)
Eles
devem ser formados e não adestrados. Amadurecer é se tornar mais consciente de
suas próprias escolhas e das consequências delas e não meramente repetir
comportamentos aprendidos;
6)
Devemos
dar a eles referências para a viagem e não um mapa do caminho, mesmo porque o
Caminho é uma Pessoa e não haverá duas viagens iguais;
7)
Filhos
não são o sentido da vida dos pais, não são sua segunda chance de fazer tudo
certo, não são seus troféus. São companheiros de jornada.