Irmãos queridos,
Essa
frase de Jesus está em um bem conhecido e muito citado texto registrado nos
três Evangelhos sinóticos – Mateus 19:13-15; Lucas 18:15-17 e Marcos
10:13-16.
Alguns
detalhes chamam nossa atenção nesse gentil episódio da vida de Jesus: sua
“indignação” com os que estavam impedindo o acesso das crianças a ele; a
declaração de que o reino dos céus pertence a elas e a afirmação enfática de
que quem não receber o reino como uma delas não terá acesso a ele.
Quero
comentar os dois primeiros desses aspectos, o de que o Reino pertence às
crianças e o de que não devemos impedi-las de ir até o Senhor.
Um
ensino bem estabelecido na Igreja, fundamental mesmo, é o da malignidade
natural do homem por causa do pecado. Quando consideramos a educação dos filhos
e a formação das crianças levamos isso muito seriamente em conta, uma vez que
essa tendência ou inclinação para o mal precisa ser corrigida e que é
necessário que cada uma se arrependa e se converta.
No
entanto, nesse texto, Jesus afirma outro fato que também deve ser considerado
em relação às crianças, sob pena de sermos contados entre os que as “impedem”
de ir até o Senhor. É que elas, mesmo tendo nascido no pecado, pertencem
naturalmente ao Reino. Devemos nos lembrar de que a natureza humana não é
maligna em sua origem criacional. Ela foi corrompida, distorcida, deformada
pelo pecado, mas não completamente destruída em sua imagem e semelhança de
Deus. E, como afirmamos, o propósito eterno de Deus é exatamente dar plenitude
a essa imago Dei, restaurando o que
foi perdido com o pecado e levando o homem à comunhão completa e sem obstáculos
com seu Criador.
Assim,
se toda criança tem uma inclinação natural para o mal, tem, mais forte e
fundamentalmente ainda, uma potencialidade espiritual para o bem, porque foi
criada por Deus para isso, para compartilhar Sua Natureza e Sua Vida, em
comunhão com Ele. Uma diferença é que enquanto o mal, na nossa presente
condição, é natural, o bem deve ser aprendido.
Na
formação das crianças e educação dos filhos é necessário conter a inclinação
natural para o mal. No entanto, mais importante do que isso, creio, é
despertar, estimular, exercitar e tornar plenamente vivido o potencial
espiritual para a verdade, para o bem, para a santidade. É nesse sentido que
entendo as palavras de Jesus de que às crianças pertence o Reino e de que nós
não devemos impedir, atrapalhar, embaraçar o caminho delas até o Senhor.
As
crianças que nascem na Igreja ou que são a ela conduzidas devem ser, antes de
tudo, formadas, educadas, instruídas para que cresçam em “sabedoria, estatura e
graça” (Lucas 2:40), aprendendo, desde cedo, as “sagradas letras” que podem
torná-las “sábias para a salvação” (2ª a Timóteo 3:14-17). Nosso enfoque
principal deve ser a formação, a instrução, a educação. A conversão é um
trabalho do Espírito Santo com o qual cooperamos cumprindo nossos papéis e não
as “impedindo” de ir a Jesus por nossa negligência e erros.
Mas
de que maneiras nós podemos “impedir” as crianças de conhecerem Jesus? Quero
sugerir alguns pontos inicias para reflexão. A maior parte deles se expressa
como paradoxos, destacando princípios que concorrem ou mesmo se contrapõem, nos
obrigando à reflexão, oração, conselho e dependência de Deus para alcançar a
sabedoria necessária para lidar com situações concretas.
Destaco
que são apenas tópicos enunciados e ainda não desenvolvidos. Espero que possam
ser úteis para nossas conversar sobre o tema.
IMPEDIMOS
AS CRIANÇAS DE IREM ATÉ JESUS:
1. Quando não
damos a elas a instrução necessária nas sagradas letras, mesmo quando as
instruímos em tantas outras coisas úteis para a vida.
2. Quando não
somos exemplos, não somos imitáveis, apesar de nossos erros e imperfeições. A
busca de sermos exemplos não pode nos levar a sermos hipócritas. O
reconhecimento de nossos pecados e erros não nos exime da obrigação de sermos
exemplos para nossos filhos.
3. Quando não as
incluímos na vida da Igreja, mesmo quando a Igreja se mostra imperfeita e cheia
de falhas. Muitos pais cometem o erro de pretender “proteger” os filhos dos
erros da Igreja e os levam a uma atitude de rejeição do Corpo ao qual devem
pertencer.
4. Quando não
as criamos para o Reino, mas para a vida no mundo, para nós mesmos ou para elas
mesmas. Isso tem a ver com a formação de uma mentalidade, de valores, virtudes,
atitudes, aptidões etc.
5. Quando não
lhes damos um ambiente de liberdade para conhecer, se expressar, experimentar,
examinar, perguntar, responder, exercitar suas faculdades, sem perder o foco no
propósito de Deus. Instruir, formar e educar são diferentes de domesticar e
adestrar. Amar, que é o propósito final de tudo, pressupõe liberdade. Só os
seres livres amam.
6. Quando não
as protegemos suficientemente e quando as protegemos demasiadamente. As
crianças não devem ser expostas a situações com as quais não estejam prontas a
lidar, mas devem ser preparadas para, quando adultas, lidarem com quaisquer
situações, o que só se pode aprender no exercício prático, nas provações que
forjam o caráter.
7. Quando queremos
determinar seu futuro (ministério, profissão, casamento etc) e quando nos omitimos
em aconselhá-las e orientá-las quanto ao seu futuro.
8. Quando
fazemos delas o sentido de nossas vidas e quando nos fazemos o sentido da vida
delas. Os filhos não devem criados como se fossem o centro da família nem como
se os pais fossem o centro da família. Deve ser sempre claro para todos que o
centro é Jesus.
9. Quando não
aceitamos com paz e alegria a mudança de nosso papel em suas vidas ao longo do
tempo, especialmente a diminuição de nossa autoridade e controle sobre eles.
10.
Quando as tratamos como eternas crianças e quando as
tratamos como mini adultos. As crianças são pessoas em formação. É importante
respeitar casa fase e trabalhar para que prossigam no seu desenvolvimento.
11.
Quando supomos que nunca vamos errar, e não nos
preparamos para lidar com os erros, e quando consideramos os erros inevitáveis
e não trabalhamos para que não ocorram ou não se repitam.
12.
Quando não as amamos incondicionalmente e quando
deixamos de manifestar a luz de Deus em suas vidas: a verdade com amor, o amor
se alegra com a verdade, graça e verdade.
Amados
irmãos, companheiros de jornada. Não que a tarefa seja simples. Em verdade, ela
está muito além de nossas possibilidades. Por isso, é fundamental que nos
lembremos de que estamos apenas cooperando com um projeto que tem como
idealizador e realizador o Deus Altíssimo, Criador e Sustentador de todas as
coisas, que age em tudo e em todos e nos concedeu o Seu Espírito Santo para nos
santificar e capacitar.
Espero seus
comentários, ponderações, correções.
“A graça de
Jesus seja com todos” (Apocalipse 21:21).
Brasília,
no dia das crianças de 2014, AD.
Fernando
Sabóia Vieira
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