segunda-feira, 13 de outubro de 2014

“Não impeçam as criancinhas, pois delas é o reino de Deus”


 
 
     Irmãos queridos,

 
     Essa frase de Jesus está em um bem conhecido e muito citado texto registrado nos três Evangelhos sinóticos – Mateus 19:13-15; Lucas 18:15-17 e Marcos 10:13-16.

     Alguns detalhes chamam nossa atenção nesse gentil episódio da vida de Jesus: sua “indignação” com os que estavam impedindo o acesso das crianças a ele; a declaração de que o reino dos céus pertence a elas e a afirmação enfática de que quem não receber o reino como uma delas não terá acesso a ele.

     Quero comentar os dois primeiros desses aspectos, o de que o Reino pertence às crianças e o de que não devemos impedi-las de ir até o Senhor.

     Um ensino bem estabelecido na Igreja, fundamental mesmo, é o da malignidade natural do homem por causa do pecado. Quando consideramos a educação dos filhos e a formação das crianças levamos isso muito seriamente em conta, uma vez que essa tendência ou inclinação para o mal precisa ser corrigida e que é necessário que cada uma se arrependa e se converta.

     No entanto, nesse texto, Jesus afirma outro fato que também deve ser considerado em relação às crianças, sob pena de sermos contados entre os que as “impedem” de ir até o Senhor. É que elas, mesmo tendo nascido no pecado, pertencem naturalmente ao Reino. Devemos nos lembrar de que a natureza humana não é maligna em sua origem criacional. Ela foi corrompida, distorcida, deformada pelo pecado, mas não completamente destruída em sua imagem e semelhança de Deus. E, como afirmamos, o propósito eterno de Deus é exatamente dar plenitude a essa imago Dei, restaurando o que foi perdido com o pecado e levando o homem à comunhão completa e sem obstáculos com seu Criador.

     Assim, se toda criança tem uma inclinação natural para o mal, tem, mais forte e fundamentalmente ainda, uma potencialidade espiritual para o bem, porque foi criada por Deus para isso, para compartilhar Sua Natureza e Sua Vida, em comunhão com Ele. Uma diferença é que enquanto o mal, na nossa presente condição, é natural, o bem deve ser aprendido.

     Na formação das crianças e educação dos filhos é necessário conter a inclinação natural para o mal. No entanto, mais importante do que isso, creio, é despertar, estimular, exercitar e tornar plenamente vivido o potencial espiritual para a verdade, para o bem, para a santidade. É nesse sentido que entendo as palavras de Jesus de que às crianças pertence o Reino e de que nós não devemos impedir, atrapalhar, embaraçar o caminho delas até o Senhor.

     As crianças que nascem na Igreja ou que são a ela conduzidas devem ser, antes de tudo, formadas, educadas, instruídas para que cresçam em “sabedoria, estatura e graça” (Lucas 2:40), aprendendo, desde cedo, as “sagradas letras” que podem torná-las “sábias para a salvação” (2ª a Timóteo 3:14-17). Nosso enfoque principal deve ser a formação, a instrução, a educação. A conversão é um trabalho do Espírito Santo com o qual cooperamos cumprindo nossos papéis e não as “impedindo” de ir a Jesus por nossa negligência e erros.

     Mas de que maneiras nós podemos “impedir” as crianças de conhecerem Jesus? Quero sugerir alguns pontos inicias para reflexão. A maior parte deles se expressa como paradoxos, destacando princípios que concorrem ou mesmo se contrapõem, nos obrigando à reflexão, oração, conselho e dependência de Deus para alcançar a sabedoria necessária para lidar com situações concretas.

     Destaco que são apenas tópicos enunciados e ainda não desenvolvidos. Espero que possam ser úteis para nossas conversar sobre o tema.
 

IMPEDIMOS AS CRIANÇAS DE IREM ATÉ JESUS:
 

1. Quando não damos a elas a instrução necessária nas sagradas letras, mesmo quando as instruímos em tantas outras coisas úteis para a vida.

 

2. Quando não somos exemplos, não somos imitáveis, apesar de nossos erros e imperfeições. A busca de sermos exemplos não pode nos levar a sermos hipócritas. O reconhecimento de nossos pecados e erros não nos exime da obrigação de sermos exemplos para nossos filhos.

 

3. Quando não as incluímos na vida da Igreja, mesmo quando a Igreja se mostra imperfeita e cheia de falhas. Muitos pais cometem o erro de pretender “proteger” os filhos dos erros da Igreja e os levam a uma atitude de rejeição do Corpo ao qual devem pertencer.

 

4. Quando não as criamos para o Reino, mas para a vida no mundo, para nós mesmos ou para elas mesmas. Isso tem a ver com a formação de uma mentalidade, de valores, virtudes, atitudes, aptidões etc.

 

5. Quando não lhes damos um ambiente de liberdade para conhecer, se expressar, experimentar, examinar, perguntar, responder, exercitar suas faculdades, sem perder o foco no propósito de Deus. Instruir, formar e educar são diferentes de domesticar e adestrar. Amar, que é o propósito final de tudo, pressupõe liberdade. Só os seres livres amam.

 

6. Quando não as protegemos suficientemente e quando as protegemos demasiadamente. As crianças não devem ser expostas a situações com as quais não estejam prontas a lidar, mas devem ser preparadas para, quando adultas, lidarem com quaisquer situações, o que só se pode aprender no exercício prático, nas provações que forjam o caráter.

 

7. Quando queremos determinar seu futuro (ministério, profissão, casamento etc) e quando nos omitimos em aconselhá-las e orientá-las quanto ao seu futuro.

 

8. Quando fazemos delas o sentido de nossas vidas e quando nos fazemos o sentido da vida delas. Os filhos não devem criados como se fossem o centro da família nem como se os pais fossem o centro da família. Deve ser sempre claro para todos que o centro é Jesus.

 

9. Quando não aceitamos com paz e alegria a mudança de nosso papel em suas vidas ao longo do tempo, especialmente a diminuição de nossa autoridade e controle sobre eles.

 

10.        Quando as tratamos como eternas crianças e quando as tratamos como mini adultos. As crianças são pessoas em formação. É importante respeitar casa fase e trabalhar para que prossigam no seu desenvolvimento.

 

11.        Quando supomos que nunca vamos errar, e não nos preparamos para lidar com os erros, e quando consideramos os erros inevitáveis e não trabalhamos para que não ocorram ou não se repitam.

 

12.        Quando não as amamos incondicionalmente e quando deixamos de manifestar a luz de Deus em suas vidas: a verdade com amor, o amor se alegra com a verdade, graça e verdade.

 

Amados irmãos, companheiros de jornada. Não que a tarefa seja simples. Em verdade, ela está muito além de nossas possibilidades. Por isso, é fundamental que nos lembremos de que estamos apenas cooperando com um projeto que tem como idealizador e realizador o Deus Altíssimo, Criador e Sustentador de todas as coisas, que age em tudo e em todos e nos concedeu o Seu Espírito Santo para nos santificar e capacitar.

Espero seus comentários, ponderações, correções.

“A graça de Jesus seja com todos” (Apocalipse 21:21).

 
Brasília, no dia das crianças de 2014, AD.

Fernando Sabóia Vieira