Companheiros de jornada,
Caíram as primeiras chuvas em Brasília, depois
do nosso longo período de seca. Durante os últimos meses, compartilhei o drama
das plantas do meu quintal com a estiagem, sem poder ajudar adequadamente a
todas.
Aprendi, todavia, com elas, algumas lições, que
se tornaram claras para mim no sábado passado, enquanto varria folhas e galhos secos
abatidos ao chão pelas águas da noite anterior. São diferentes estratégias
adotadas pelas plantas para travessar longos períodos de falta de chuva, que
podem ser úteis para nós quando temos que passar pelas nossas próprias estações
áridas.
A primeira estratégia nos é oferecida pelas
grandes árvores, como os eucaliptos e mangueiras. Essas têm raízes profundas e
praticamente não sofrem com a seca, já que conseguem atingir a água pura e fresca
do lençol freático que corre no subsolo.
A primeira lição para nós é: aprofunde-se. Assim
como sempre há água e alimento nas camadas mais profundas da terra, igualmente
há no Espírito que habita em nós toda a virtude de Deus e todos os recursos
para a produção do fruto espiritual. Temos que lançar as raízes de nossa vida
nEle, desenvolvendo um relacionamento íntimo e constante com o Senhor. Como fazemos
isso? Por meio da oração, meditação, adoração, contemplação, serviço,
obediência e confissão, disciplinas que são caminhos para mais perto de Deus,
para uma espiritualidade autêntica e poderosa. Quando vivemos dessa forma,
temos sempre alimento e vida, independentemente das circunstâncias e das
intempéries.
Outras plantas adotam um procedimento diferente:
elas acumulam água durante o período de chuvas para sobreviver durante a seca. Os
cactos e algumas árvores do cerrado fazem isso.
Penso aqui na importância de bem aproveitarmos o
que Deus já nos tem dado, de guardar no coração as lições aprendidas, as
experiências, as vitórias, a graça recebida. Essa memória da atuação do Senhor
em nós, sempre atualizada pelo Espírito Santo, pode nos sustentar e alimentar
nos períodos difíceis. São diversos os Salmos nas Escrituras compostos para
fazer sempre presente as grandes ações do Pai a nosso favor. Podemos compor
nosso próprio saltério com cânticos acerca dos feitos de Deus em nossa vida e
na vida dos irmãos com quem caminhamos.
Algumas árvores atravessam o período de falta de
chuvas perdendo as folhas e, dessa forma, diminuindo sua demanda por água e
nutrientes. Elas passam a viver do essencial. Essa é a tática, por exemplo, do
nosso flamboyant.
Que grande e valiosa lição essa! Viver do
essencial, contentar-se com o que se tem, aprender que poucas coisas são
necessárias, na verdade, disse Jesus, uma apenas: Ele mesmo! Devemos nos
simplificar, nos desembaraçar do supérfluo. Viver das petições ensinadas por
Jesus no Pai Nosso: pão, perdão, proteção contra as tentações e contra o mal,
viver o Reino de Deus, fazer Sua vontade, santificar o Seu Nome.
Finalmente, há plantas
que assumem uma postura mais radical: elas praticamente morrem durante a seca e
renascem, de suas sementes, quando chegam as chuvas, como acontece com a grama
comum.
Aqui também podemos aprender algo: há coisas que devemos deixar
morrer em nossas vidas, renunciar completamente a elas. Podem ser bens, haveres,
sonhos, sentimentos, questões que não devem chegar à próxima estação. Caso sejam
da vontade do Senhor, haverão de renascer no futuro, oportunamente, talvez de
uma maneira hoje inimaginável para nós: “o que os olhos não viram nem os
ouvidos ouviram...”.
Creio que precisamos
utilizar todas essas estratégias para nos prepararmos para os momentos de
estiagem que eventualmente tivermos que atravessar, conscientes de que é o
próprio Senhor quem nos conduz a eles e quem nos sustenta durante toda a
jornada, até que seja produzido o fruto que Ele quer para nós.
Que a suficiente graça
de Jesus seja com todos.
Brasília, primeiros
dias da primavera de 2012, AD.
Fernando Sabóia Vieira