sábado, 24 de março de 2018

Esperar em Deus

ESPERAR EM DEUS COM O CORAÇÃO
Andrew Murray

“Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no SENHOR” Salmo 31:24

         As palavras são quase as mesmas de nossa meditação anterior. Mas é com alegria que delas novamente me sirvo para enfatizar uma lição muito necessária para toso os que desejam verdadeira e completamente aprender o que significa espera em Deus. A lição é essa: é com o coração que devemos esperar em Deus. “Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no SENHOR”. Todo o nosso esperar depende do estado do nosso coração. Tal qual é o seu coração, assim é o homem diante de Deus. Não podemos ir mais longe ou mais profundo no santo lugar da Presença de Deus para esperar n’Ele do que o nosso coração tenha sido preparado para ir pelo Espírito Santo. A mensagem é: “Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no SENHOR”.
         Essa verdade parece ser tão simples que alguém pode perguntar se todos já não concordam com ela. Por que a necessidade de insistir tão especialmente nisso? Porque muitos cristãos não têm qualquer noção da grande diferença que há entre o cristianismo da mente e o cristianismo do coração, e o primeiro é cultivado muito mais diligentemente do que o segundo. Eles não sabem o quão infinitamente maior é o coração do que a mente. É essa a casa de muitas debilidades na nossa vida cristã. E é apenas quando isso for compreendido que o esperar em Deus trata sua bênção completa.
         Provérbios 3:5 pode ajudar a esclarecer o que eu quero dizer. Falando sobre uma vida no temor e na graça de Deus, ele diz: “Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento”. Em tudo o que cremos, devemos usas essas duas capacidades. A mente precisa reunir conhecimento da Palavra de Deus e preparar o alimento por meio do qual o coração e a vida interior serão nutridos. Mas aqui reside o terrível perigo de nos apoiarmos no nosso próprio entendimento e confiarmos na nossa própria compreensão das realidades divinas.
         As pessoas imaginam que se estiverem ocupadas com a verdade sua vida espiritual será, consequentemente, fortalecida. E isso não é, de modo algum, verdadeiro. O entendimento lida com conceitos e imagens das coisas espirituais, mas ele não pode atingir a vida real da alma. Por isso o mandamento: “Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento”. É com o coração que o homem crê e entra em contato com Deus. É no coração que o Espírito Santo foi dado para ser a presença e o poder de Deus operando em nós. Em toda nossa fé, é o coração que deve confiar, e amar, e adorar, e obedecer. Minha mente é completamente incapaz de criar ou manter a vida espiritual dentro de mim. O coração precisa esperar em Deus para que Ele opere essa vida em mim.
         Isso ocorre do mesmo modo que na vida física. Minha razão pode me dizer o que comer e beber e como o alimento me nutre. Mas no comer e no me alimentar minha razão não pode fazer nada – o corpo tem seus órgãos para esse propósito específico. Igualmente, a razão pode me dizer o que afirma a Palavra de Deus, mas ela não pode fazer nada em relação ao nutrir a alma com o pão da vida – isso apenas o coração pode fazer por meio da fé e confiança em Deus. Um homem pode se dedicar a estuda a natureza e os efeitos do alimento ou do sono. Mas quando ele quer comer ou dormir ele deixa de lado seus pensamentos e seu estudo e usa a capacidade de comer ou de dormir. E assim, o cristão sempre necessita, depois que já estudou ou ouviu a Palavra de Deus, deixar seus pensamentos, não colocar sua confiança neles, despertar seu coração para que se abra diante de Deus e procurar a comunhão com Ele.
         Essa é, então, a bênção de esperar em Deus, que eu confesse a completa debilidade de meus pensamentos e esforços, e me apresente quieto para curvar meu coração diante d’Ele em santo silêncio, e confie n’Ele para que Ele renove e fortaleça Sua própria obra em mim. E é exatamente essa a lição de nosso texto: “Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no SENHOR”. Lembre-se da diferença entre conhecer com a mente e crer com o coração. Acautele-se contra a tentação de confiar no seu entendimento e em seus fortes e claros pensamentos. Eles apenas podem ajuda-lo a saber o que o coração deve obter de Deus – em si mesmos são apenas imagens e sombras.
         “Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no SENHOR”. Apresente-o diante de Deus como aquela maravilhosa parte de sua natureza espiritual na qual Deus se revela e por meio da qual você pode conhecê-lO. Cultive a maior confiança de que embora você não possa enxergar dentro do seu coração, Deus está trabalhando nele pelo Seu Espírito Santo. Deixe que seu coração espere às vezes em perfeito silêncio e quietude, e em suas profundezas ocultas Deus vai trabalhar. Tenha certeza disso e tão somente espere n’Ele. Entregue todo o seu coração, com seus caminhos secretos, nas mãos de Deus continuamente. Ele quer o coração. Ele o toma e, como Deus, habita nele. “Sede fortes, e revigore-se o vosso coração, vós todos que esperais no SENHOR”.
         “Espera somente em Deus, oh minha alma”.

Andrew Murray, “Waiting on God”, cap. IX. Tradução de Fernando Saboia Vieira para o www.baudofernando.blogspot.com.


domingo, 11 de março de 2018

Jornada Pascal

São Francisco de Sales (1567-1622)

Bispo de Genebra, doutor da Igreja 

Sermão para a Sexta-Feira Santa, 25/03/1622


Perdoar aos irmãos de todo o coração


A primeira palavra que Nosso Senhor pronunciou sobre a cruz foi uma oração por quem O crucificava, fazendo o que diz este texto de S. Paulo «Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas» (Heb 5,7). Certamente que aqueles que crucificaram o nosso divino Salvador não O conheciam [...], porque se O tivessem conhecido não O teriam crucificado (1Cor 2,8). Por conseguinte, Nosso Senhor, vendo a ignorância e a fraqueza daqueles que O torturavam, começou a desculpá-los e ofereceu por eles esse sacrifício a seu Pai celeste, porque a oração é um sacrifício [...]: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34). Tão grande era a chama de amor que ardia no coração do nosso manso Salvador, que na mais suprema das suas dores, no momento onde a intensidade dos tormentos parecia impedi-lo de rezar por Si, pela força do seu amor, esquece-Se de Si próprio, mas não das suas criaturas. [...]

Com isso, desejava que compreendêssemos que o amor que nos tem não pode ser enfraquecido por nenhum tipo de sofrimento, e ensinar-nos qual é o dever do nosso coração para com o nosso próximo. [...] E o divino Senhor, que Se empenhou em pedir perdão para os homens, foi certamente ouvido e o seu pedido atendido, porque seu divino Pai não podia recusar-Lhe nada que Ele Lhe pedisse.


Fonte: Evangelho Cotidiano – evzo.org