quarta-feira, 24 de setembro de 2014

LOUVOR E ADORAÇÃO


 

Caríssimos companheiros de jornada em busca da vida interior,

          Tive um sonho. Nele, estava com vários irmãos preparando um encontro da Igreja quando, num momento de inspiração repentina, era levado a escrever numa pequena folha de papel algumas frases sobre louvor e adoração, diferenciando-os como duas dimensões distintas do estar diante da Presença de Deus.

     Compartilho o que escrevi e aonde isso me levou como reflexão.

     O louvor é a verticalidade, a exaltação de Deus, de Sua excelsa e imperscrutável Pessoa, de Seu Caráter e de Seus Tremendos feitos. Ele é o Altíssimo, o Totalmente Outro, tão distante e diferente de mim em sua Santidade, Justiça, Verdade e Perfeição. Tributar ao Senhor o louvor que lhe é devido, essa é a exortação do Saltério. Louvar a Deus é justo, é o adequado reconhecimento de quem Ele é. Em sua Presença sou cheio de temor e de consciência de Seu Eterno Poder e compreendo minha pequenez de criatura e minha indignidade de pecador.

     O louvor não produz, assim, necessariamente, um relacionamento pessoal com aquele a quem eu exalto e elogio. Pode mesmo, ao contrário, levar a uma distância.

     A adoração é a integração, a união da minha mente e do meu coração com esse Deus Altíssimo, é a resposta profunda da minha alma à atração e ao fascínio que Sua Presença provoca em mim. É a descoberta não apenas de quem eu sou, mas também de a quem pertenço. Quando adoro, não me limito a reconhecer e declarar que Ele é o Deus Santo, digno de toda honra e glória, mas também me dou conta de eu fui criado para participar de Sua existência e natureza divina e gloriosa. É o encontro com Sua Graça, Misericórdia e Amor. É prostrar-me, consagrar-me, dedicar-me inteiramente ao serviço de quem assim me conquistou.

     O Senhor busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade, disse Jesus. Não apenas ser reconhecido com Deus, mas amado como Pai.

     O louvor pode ser visto como uma obrigação, a adoração é voluntária. O louvor nasce do reconhecimento de um fato – de que Deus existe e é Santo. A adoração tem sua fonte no relacionamento com uma Pessoa, que me ama e me chama para pertencer a ela. A adoração pode fluir do louvor, e o louvor é a consequência necessária da adoração. São, de fato, inseparáveis quando têm por objeto o Deus Vivo. Quando reconheço a excelência de Deus e a magnificência de Seus feitos sou levado a adorá-lO; quando O adoro fluem do meu coração e dos meus lábios expressões que louvam Sua maravilha e santidade.

     Não pretendo fazer entre louvor e adoração uma distinção teológica rigorosa. São dimensões de nosso culto a Deus, respostas do nosso ser – corpo, alma e espírito - diante da Infinita Presença de Deus, expressões de nosso encontro com o Sagrado, que nos provoca, ao mesmo tempo, temor e fascinação diante do seu mistério – "mysterium tremendum et mysterium fascinans" (Rudolf Otto).

Somos, ademais, exortados pelas Escrituras a oferecermos a Deus “sacrifícios de louvor” e a multiplicarmos entre nós os “salmos, hinos e cânticos espirituais”, “com ações de graças” em todas as nossas petições e súplicas. Essas práticas nos levam a reconhecer a dimensão transcendente, espiritual, eterna e significativa da vida comum, a despertar nossa consciência para a realidade última que envolve todas as coisas no Ser Infinito de Deus, a participar do Seu propósito eterno que a todo tempo tudo faz convergir para Ele mesmo. Nosso pensar e nosso sentir vão, nesse caminho, permanecendo cada vez mais tempo na Presença e passamos, por meio da transparência do Seu Rosto a nos iluminar, a vê-lO, a contemplá-lO e a amá-lO e, assim, a sermos transformados em Sua própria Imagem.

     Foram essas as paragens a que me conduziu meu sonho com o louvor e a adoração, tão essenciais para que a jornada seja menos árdua de esforços e mais cheia de contentamento com a Presença.

     Que a graça de Jesus seja com todos.

     Brasília, primeiro dia da primavera de 2014, AD.

     Fernando Sabóia Vieira