Caríssimos companheiros de jornada
em busca da vida interior,
Tive um sonho. Nele, estava com vários
irmãos preparando um encontro da Igreja quando, num momento de inspiração
repentina, era levado a escrever numa pequena folha de papel algumas frases sobre
louvor e adoração, diferenciando-os como duas dimensões distintas do estar
diante da Presença de Deus.
Compartilho
o que escrevi e aonde isso me levou como reflexão.
O
louvor é a verticalidade, a exaltação de Deus, de Sua excelsa e imperscrutável Pessoa,
de Seu Caráter e de Seus Tremendos feitos. Ele é o Altíssimo, o Totalmente
Outro, tão distante e diferente de mim em sua Santidade, Justiça, Verdade e
Perfeição. Tributar ao Senhor o louvor que lhe é devido, essa é a exortação do
Saltério. Louvar a Deus é justo, é o adequado reconhecimento de quem Ele é. Em sua
Presença sou cheio de temor e de consciência de Seu Eterno Poder e compreendo
minha pequenez de criatura e minha indignidade de pecador.
O
louvor não produz, assim, necessariamente, um relacionamento pessoal com aquele
a quem eu exalto e elogio. Pode mesmo, ao contrário, levar a uma distância.
A
adoração é a integração, a união da minha mente e do meu coração com esse Deus
Altíssimo, é a resposta profunda da minha alma à atração e ao fascínio que Sua
Presença provoca em mim. É a descoberta não apenas de quem eu sou, mas também de
a quem pertenço. Quando adoro, não me limito a reconhecer e declarar que Ele é
o Deus Santo, digno de toda honra e glória, mas também me dou conta de eu fui
criado para participar de Sua existência e natureza divina e gloriosa. É o
encontro com Sua Graça, Misericórdia e Amor. É prostrar-me, consagrar-me,
dedicar-me inteiramente ao serviço de quem assim me conquistou.
O
Senhor busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade, disse Jesus. Não
apenas ser reconhecido com Deus, mas amado como Pai.
O
louvor pode ser visto como uma obrigação, a adoração é voluntária. O louvor nasce
do reconhecimento de um fato – de que Deus existe e é Santo. A adoração tem sua
fonte no relacionamento com uma Pessoa, que me ama e me chama para pertencer a
ela. A adoração pode fluir do louvor, e o louvor é a consequência necessária da
adoração. São, de fato, inseparáveis quando têm por objeto o Deus Vivo. Quando reconheço
a excelência de Deus e a magnificência de Seus feitos sou levado a adorá-lO;
quando O adoro fluem do meu coração e dos meus lábios expressões que louvam Sua
maravilha e santidade.
Não
pretendo fazer entre louvor e adoração uma distinção teológica rigorosa. São dimensões
de nosso culto a Deus, respostas do nosso ser – corpo, alma e espírito - diante
da Infinita Presença de Deus, expressões de nosso encontro com o Sagrado, que
nos provoca, ao mesmo tempo, temor e fascinação diante do seu mistério – "mysterium tremendum et mysterium fascinans" (Rudolf
Otto).
Somos,
ademais, exortados pelas Escrituras a oferecermos a Deus “sacrifícios de louvor”
e a multiplicarmos entre nós os “salmos, hinos e cânticos espirituais”, “com
ações de graças” em todas as nossas petições e súplicas. Essas práticas nos
levam a reconhecer a dimensão transcendente, espiritual, eterna e significativa
da vida comum, a despertar nossa consciência para a realidade última que
envolve todas as coisas no Ser Infinito de Deus, a participar do Seu propósito
eterno que a todo tempo tudo faz convergir para Ele mesmo. Nosso pensar e nosso
sentir vão, nesse caminho, permanecendo cada vez mais tempo na Presença e
passamos, por meio da transparência do Seu Rosto a nos iluminar, a vê-lO, a
contemplá-lO e a amá-lO e, assim, a sermos transformados em Sua própria Imagem.
Foram
essas as paragens a que me conduziu meu sonho com o louvor e a adoração, tão
essenciais para que a jornada seja menos árdua de esforços e mais cheia de
contentamento com a Presença.
Que
a graça de Jesus seja com todos.
Brasília,
primeiro dia da primavera de 2014, AD.
Fernando
Sabóia Vieira