SOLITUDE
Thomas Merton
Solitude física, silêncio exterior e
verdadeiro recolhimento todos esses são moralmente necessários para qualquer um
que queira ter uma vida contemplativa, mas, como tudo o mais na criação, eles
não são nada mais do que meios para um fim, e se não entendermos que fim é esse
faremos mal-uso dos meios.
Assim, devemos nos lembrar de que
procuramos a solitude para nela crescer em amor a Deus e aos homens. Não vamos
ao deserto para escapar das pessoas, mas para aprender como encontrá-las: nós
não as deixamos para não ter mais nada a ver com elas, mas para encontrar
maneiras de lhes fazer mais bem. Mas esse é sempre um fim secundário. O fim
único que inclui todos os outros é o amor de Deus.
A verdadeira solitude não é algo
exterior a você, não é a ausência de barulhos à sua volta: ela é um abismo que
se abre no centro da sua alma. E o que criou esse abismo interior foi uma fome
que não será jamais saciada por qualquer ser criado.
O único caminho para encontrar solitude
é pela fome e sede e tristeza e pobreza e desejo, o homem que encontrou a
solitude é vazio, como se tivesse sido esvaziado pela morte. Ele foi além de
todos os horizontes. Não há mais direções em que possa viajar. Esse é um país
cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não está em parte alguma.
Você não o encontra viajando, mas permanecendo quieto.
No entanto, é nessa solidão que as
atividades mais profundas começam. É aqui que se descobre ato sem movimento,
trabalho que é profundo repouso, visão na obscuridade, e, superando todo
desejo, um preenchimento cujos limites se estendem ao infinito.
Thomas Merton, “Seeds of Contemplation”, cap. 6.
Tradução
de Fernando Saboia Vieira
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